Edward Prescott, Prêmio Nobel de Economia em 2004, em recente entrevista a propósito da chamada “guerra fiscal”, afirmou que a competição entre estados é boa e deve ser estimulada, e que um dos principais problemas econômicos do Brasil é a concentração da economia em polos como São Paulo. O economista mirava o exemplo de seu país, os Estados Unidos. Em que pese a crise, os EUA são uma das economias mais dinâmicas do mundo, porque também uma das mais abertas às mudanças: a riqueza se desloca entre indivíduos, classes, regiões. As mais pujantes empresas de hoje funcionavam em garagens nos anos 70; os estados do Norte que, há cinquenta anos, concentravam a indústria automobilística (principalmente Michigan) perdem espaços para estados do Sul, naquela época agrários. Essa desconcentração econômica ocorreu também porque os estados americanos sempre tiveram liberdade de oferecer incentivos, com os quais os menos industrializados disputaram com êxito empreendimentos diante dos mais ricos.
No Brasil estamos longe disso. Após um rápido impulso derivado de uma tímida compensação social (Bolsa-Família) e demanda reprimida de crédito, parece que voltamos ao ritmo dos anos 80 (a década perdida). Isso acontece porque privilégios (de grupos, de empresas com fácil acesso ao dinheiro público, de estados) travam qualquer dinamismo econômico. Nada muda aqui, e as poucas tentativas apenas disfarçam os ganhadores de sempre. É certo que os pobres passaram a receber uma fatia mínima do bolo (fatia que a inflação já começa a comer), mas os privilegiados seguem levando a maior parte. O mesmo ocorre no plano regional. Se nos EUA os ganhadores de hoje são os perdedores de ontem, e a equação pode mudar amanhã, porque há igualdade entre os competidores, o Brasil assemelha-se mais ao mundo distópico dos Hunger Games (Jogos Vorazes).
A Capital (o Sul) vive em meio ao luxo enquanto os distritos pobres (Nordeste) são obrigados a pagar-lhe tributo (o imposto de consumo, ICMS, que no mundo inteiro é pago onde o produto é consumido, aqui é pago à origem), a enviar-lhes mão de obra barata e ainda sofrerem preconceito (tidos como bárbaros, inferiores...). Com 30% da renda per capita nacional, o Nordeste só alcançaria a renda que o Sul desfruta hoje daqui a 75 anos. E Dilma, como seus antecessores, ilude-se acreditando que o Brasil chegará a potência mundial com tamanha desigualdade, que não será resolvida só com aumentos discretos no Bolsa-família.
Nada de política de desconcentração, e o pouco que se tenta quando não naufraga na resistência dos ricos (reforma tributária), é derrubada (royalties do petróleo) pelo Supremo Tribunal Federal que parece existir só para manter o status quo, enquanto despede aqui e acolá, pitadas de direitos sociais às custas dos cofres públicos, isto é, que vão ser custeados pelos mesmos pobres... E o resultado é este: estagnação. Diz-se que o presidente Obama, quando alguém afirmou, no auge da crise, que os EUA poderia vir a ser substituído por um dos famosos BRICs, manifestou sua incredulidade. Bem, ele pode ficar tranquilo que pelo Brasil não será.
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