Mario Sergio Cortella
domingo, 11 de janeiro de 2015
Felicidade
Felicidade
é uma vibração intensa, um momento em que eu sinto a vida em plenitude dentro
de mim, e quero que aquilo se eternize. Felicidade é a capacidade de você ser
inundado por uma alegria imensa por aquele instante, por aquela situação.
Aliás, felicidade não é um estado contínuo, felicidade é uma ocorrência
eventual. A felicidade é sempre episódica. Você sentir a vida vibrando, seja
num abraço, seja na realização de uma obra, seja numa situação, por exemplo, em
que seu time vence, seja porque algo que você fez deu certo, seja porque você
ouviu algo que você queria ouvir. É claro que aquilo não tem perenidade, aliás,
a felicidade se marcada pela perenidade seria impossível. Afinal de contas nós
só temos a noção de felicidade pela carência. Se eu tivesse a felicidade como
algo contínuo, eu não a perceberia. Nós só sentimos a felicidade porque ela não
é contínua. Isto é, ela não é o que acontece o tempo todo, de todos os modos. A
ideia de felicidade sozinha ela teria que ter uma questão anterior: se é possível
viver sozinho. Que como a felicidade pelo óbvio só acontece com alguém que viu
ou está e viver é viver com outros e outras, como não é possível viver sozinho?
A possibilidade da felicidade isolada, solitária é nenhuma. Pra que eu possa
ser feliz sozinho eu teria que ser capaz de viver sozinho. Mesmo a literatura,
como Robson Crusoé, por exemplo, que lida com um homem que está só, mas ele
está só depois de ter vivido com outros. Ele trás as outras pessoas na sua
memória, na sua história, no seu desejo, no seu horizonte. Não há, não há
história de ser humano em que ele tenha sido sozinho da geração até o término.
Se assim não há, não há possibilidade de se ser feliz sozinho. Nos últimos 50
anos do século XX, nós tivemos mais desenvolvimento tecnológico do que em toda
história anterior da humanidade. Todos os 39.950 anos anteriores, desde que o
homo sapiens era sapiens, sapiens sapiens na classificação científica, foram
menos do que os 50 anos finais do século XX. Seria a redenção da humanidade.
Uma questão: as questões centrais permaneceram. Quem sou eu?, pra que tudo
isso?, porque eu não sou feliz apenas quando possuo objeto?, porque o mal
existe?, porque que eu não tenho paz em meio a tanta convivência? Nesta hora,
não só a religiosidade, ela sofreu um revival, como a filosofia passou, de
novo, a ser interessante. E aí claro, a filosofia como autoajuda, a filosofia
como autoconhecimento, a filosofia como auto capacidade, a filosofia como
prática sistemática. E de repente a gente tem no final do século XX, em vários
lugares do mundo e no Brasil também, casas pra estudar filosofia; procura de
cursos de filosofia. Nós somos o único animal que é mortal. Todos os outros
animais são imortais. Embora todos morram, nós somos o único que além de
morrer, sabe que vai morrer. Teu cachorro tá dormindo sossegado a essa hora.
Teu gato tá tranquilo. Você e eu sabemos que vamos morrer. Desse ponto de
vista, não é a morte que me importa, porque ela é um fato. O que me importa é o
que eu faço da minha vida enquanto minha morte não acontece, pra que essa vida
não seja banal, superficial, fútil, pequena. Nesta hora, eu preciso ser capaz
de fazer falta. No dia que eu me for, e eu me vou, quero fazer falta. Fazer
falta não significa ser famoso, significa ser importante. Há uma diferença
entre ser famoso e importante. Muita gente não é famosa e é absolutamente
importante. Importar; quando alguém me leva pra dentro, importa. Ele me porta
pra dentro, ele me carrega. Eu quero ser importante. Por isso, pra ser
importante, eu preciso não ter uma vida que seja pequena. E uma vida se torna
pequena quando ela é uma vida que é apoiada só em si mesmo, fechada em si. Eu
preciso transbordar, ir além da minha borda, preciso me comunicar, preciso me
juntar, preciso me repartir. Nesta hora, minha vida que, sem dúvida, ela é
curta, eu desejo que ela não seja pequena.
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