Estamos vivenciando uma época difícil. O “politicamente correto” afugenta muito protagonismo. O denuncismo irresponsável também. Lança-se uma alusão, uma suspeita, aquilo rende na morbidez da criatura miserável que é o ser humano. A generalização é a regra: ninguém presta. E ponto final. Conversando com uma autoridade importante para o País estes dias, ele comentava: – Nunca ninguém foi acusado por falar “não“. Agora, se falar “sim“, corre o risco de ser preso…
A patrulha paralisa a nação, quando ela precisaria estar desperta para recuperar o tempo perdido. Se isso ainda for possível. Mas não resisto a buscar no Padre Antonio Vieira algo que deve nos orientar quanto à omissão. É mais fácil permanecer omisso quando toda ação é contestada. Mas no Sermão da Primeira Dominga do Advento ele admoesta que se há de pedir estreita conta do que se fez, mas muito mais estreita do que se deixou de fazer. “Pelo que fizeram, se hão de condenar muitos; pelo que não fizeram, todos“. E recorda a sentença divina: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno!“. E por que? Porque “não me destes de comer, não me destes de beber, não me recolhestes, não me vestistes, não me visitastes“.
Os pecados que nos condenarão são os pecados de omissão. E os exemplos são muitos e atuais. O latrocida mata um. A autoridade, com a omissão, mata uma legião. “A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete, e com mais dificuldade se conhece“. A omissão é o pecado que se faz não fazendo. Não defendendo a natureza. Não corrigindo o que está errado. Não exigindo seriedade no trato da coisa pública. Não fiscalizando. Não denunciando. Tardar também é omissão. Fazer no mês que vem o que deveria ter sido feito no mês passado. Amanhã o que se deveria fazer hoje. Fazer depois o que se deveria fazer agora. Os ladrões do tempo são ladrões como os demais. A vida não é ensaio. É definitiva. E efêmera. E frágil. Pensemos nisso.
*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
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