“Meu notebook precisava de uma nova bateria e de um novo alimentador de força. Fui numa loja especializada e as duas peças sairiam por R$ 400,00 e demoraria 15 dias para serem entregues. Fui na internet, paguei menos de R$ 200,00 e em 5 dias já tive meu computador funcionando perfeitamente. Moral da história? Não sei a moral da história. Só estou feliz porque economizei R$ 200,00 e meu notebook está funcionando novamente”, publicou um amigo, no Facebook. “Moral da história”, respondi, “é que você apenas foi beneficiado pelo livre mercado, assim como bilhões de pessoas, todos os dias”. Meu amigo completou: “Como consumidor, o que me importa é qualidade e preço. De onde virá o produto não me importa, desde que me atenda.”.
Apesar de suas últimas palavras serem a base do sistema capitalista, meu amigo está longe de ser seu defensor. Vota e defende a esquerda.
O natal está aí e até os mais saltitantes socialistas usufruirão dos frutos do sistema de trocas voluntárias entre indivíduos e empresas. Cada um deles, cristão ou não, escolherá pelo menos um presentinho para dar a alguém. Suponhamos que um deles, em vez de comprar, fará o presente que dará ao pai, à mãe, ao filho ou à companheira. A ferramenta que utilizará e a alimentação que lhe dará energia para isso foram viabilizadas pela interação entre incontáveis ambições capitalistas – pessoas querendo obter lucro.
O vendedor que atendeu meu amigo não estava interessado em sua felicidade. Ele só queria dinheiro. Para isso, teve que oferecer um bom produto a um bom preço. Conseguiu. Ganhou o dinheiro para ajudar a pagar as contas de sua empresa para, talvez, sobrar alguma coisa para comprar um presente para alguém e para si mesmo. Meu amigo reviveu seu computador, podendo voltar tanto a trabalhar quanto a ver pornografia. O vendedor não se interessa em saber quem é o cliente, com o que ele trabalha, nem quais os gêneros pornográficos ele assiste. O comprador não se interessa em saber quem é o vendedor, o que ele pensa da vida, se ele está tendo sucesso no negócio ou prestes a falir. Ou seja: apesar de cada indivíduo considerar apenas suas próprias necessidades, a realização dessas necessidades beneficia outros indivíduos − “Egoísmo Ético”, como diria Milton Friedman e George Stigler.
Em seu livro Vícios Privados, Benefícios Públicos, Eduardo Giannetti da Fonseca escreve… “Afirmar que a virtude pura não funciona na economia, o que é verdadeiro, de forma alguma significa dizer que o vício puro funcione, o que é falso”. Ou seja: No sistema capitalista, ser ou não uma pessoa “boa” não me significa nada. O cliente não quer saber se o vendedor bate ou não na mulher; ele quer apenas um produto bom e barato. O vendedor não quer saber se o cliente bate ou não na mulher; ele quer apenas vender seu produto. É essa relação “fria e reta” que viabiliza os prazeres e os confortos de todas as pessoas, que sustenta todas as famílias, que mantém todas as fábricas e todos os laboratórios funcionando. Aos que pejoram esta relação, lembro que ela também diz que o cliente e o vendedor não se importam se o outro é negro, gay ou crente. Ambos esperam apenas que suas expectativas comerciais sejam atingidas. O vendedor quer dinheiro. O cliente quer um produto. Simples assim. O resultado disso na escala social é um consenso silencioso de que todos devem usufruir de liberdade econômica, pois qualquer um pode ser aquele que irá nos vender ou nos comprar alguma coisa. A escravidão acabou na medida em que os agentes capitalistas foram entendendo que é muito mais lucrativo estar numa sociedade de trabalhadores com dinheiro para gastar do que numa sociedade de escravos cansados e doentes. Os ingleses não estavam preocupados com os escravos brasileiros. Eles estavam preocupados com suas empresas; pressionaram a abolição da escravatura apenas para encarecer a produção de empresas concorrentes. Não por coincidência, os países onde o egoísmo ético mais se manifesta são aqueles que registram os melhores índices de qualidade de vida, afinal, são as sociedades onde cada indivíduo tem mais condições de desenvolver, de empreender e de perseguir seus lucros − milhões de manifestações egoístas gerando benefícios coletivos.
Quando Giannetti refere-se ao “vício puro”, ele se refere à perseguição do lucro desconsiderando a necessidade do cliente. Quando isso ocorre num ambiente de livre mercado, a empresa vai à falência.
Muitos socialistas criticam o natal por vê-lo como uma data símbolo do consumismo − que só é possível graças à diversidade de produtos; e essa diversidade é proporcional á liberdade econômica. Ok… Mas nenhum socialista rejeita a liberdade de escolher o que comprar e a quem presentear. Isso porque, sendo socialista ou não, politizado ou não, religioso ou não, cada indivíduo tende a procurar o que é melhor para si. Todos nós passamos o tempo todo selecionando coisas e pessoas, sempre calculando a melhor relação custo-benefício. Cada um de nós presenteia apenas aqueles que nos oferecem algo em troca, e o valor do objeto oferecido sempre é em função da importância dessa pessoa em nossas vidas. Ecce homo.
Milhares de pessoas tentam fugir de Cuba movidas apenas pela esperança de ter poder de escolha. Um cidadão comum cubano, pobre e sem amigos ou parentes morando em Miami, é obrigado a usar os sapatos, as roupas, o creme dental e o papel higiênico fornecidos pelo governo. Como sempre digo, o único embargo econômico que existe em Cuba é o do governo contra sua própria sociedade. Nenhum cidadão cubano pode fabricar sapatos, roupas, cremes dentais ou papel higiênico para vender aos interessados e obter seus lucros, prosperar e ter poder aquisitivo para consumir livremente os produtos de outras pessoas − a perversão socialista impõe o que cada indivíduo deve desejar. O regime alega que este controle evita a exploração e a ganância. Quem concorda? Será que os líderes do governo cubano calçam os mesmos sapatos, vestem as mesmas roupas, escovam os dentes com o mesmo creme e limpam seus rabos com o mesmo papel higiênico utilizado pelo cidadão comum? Improvável. Enquanto a população cubana é “agraciada” pela proteção socialista, a grande maioria dos americanos “oprimidos” e “explorados” pelas ganâncias capitalistas têm condições de usar os mesmos produtos que compõem a vida privada de Barak Obama.
Outra realidade conscientemente ignorada pelos socialistas é a de que, quanto mais um indivíduo usufrui de liberdade privada, mais este indivíduo respeita a liberdade privada dos demais. Quanto mais um indivíduo deseja a riqueza, mais ele se esforça em oferecer bons produtos e serviços à sociedade, principalmente porque ele sabe que do outro lado da rua está seu concorrente, que o cumprimenta todos os dias, mas que deseja conquistar seus clientes oferecendo produtos e serviços ainda melhores. O mesmo vale para os funcionários que, numa empresa privada, precisam trabalhar cada vez melhor para receber cargos e salários cada vez melhores – num órgão estatal, a conquista de melhores cargos e salários depende do talento de se catar carrapatos no lombo do chefe.
Meu amigo, diante de minhas provocações, noutro comentário disse que não é bem atendido em muitos serviços privados, citando transportes, energia, bancos e telefonia. Lembrei-lhe, então, de que tais setores são os mais influenciados pelo Estado, geridos direta ou indiretamente a partir de interesses políticos e ideológicos.
A verdade: o setor produtivo tende a nos oferecer produtos cada vez melhores a preços cada vez mais baixos pela simples necessidade de cada empresa ter que pagar suas contas e gerar lucro ao seu dono – vide o mercado de aparelhos eletrônicos. Cada produto caro carrega consigo o peso de impostos, de encargos e de burocracias criadas pelo Estado, cuja montanha de dinheiro serve mais para manter a existência do próprio Estado do que para viabilizar infraestruturas e serviços públicos. Cada produto de má qualidade significa que o Estado, sob o argumento de proteger o setor relacionado, criou barreiras para impedir a competição.
A mesma verdade: Não é a competência de seus engenheiros o fator mais importante no sucesso da Apple, mas sim a existência de outras grandes empresas competindo pela preferência dos consumidores. Não é o desejo de fazer seus consumidores felizes que uma loja anuncia uma promoção, mas sim a necessidade de gerar capital ou mesmo de se livrar de produtos encalhados.
O mundo perfeito, livre de desigualdades, é impossível de ser alcançando simplesmente por causa das leis que a própria natureza impõe – competição e seleção −, porém, quanto mais liberdade as pessoas tiverem para comercializarem seus trabalhos e seus produtos, mais condições terão de se aproximar do “mundo ideal” de cada uma.
Não existe almoço, nem sapatos, nem roupas, nem creme dental, nem papel higiênico grátis. Também não existem serviços públicos gratuitos. Não podemos ignorar que os produtos e serviços mais caros são aqueles que o Estado nos obriga a comprar depois de nos obrigar a pagar pesados impostos.
http://www.institutoliberal.org.br/blog/egoismo-etico/
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