sábado, 24 de maio de 2014

Metro quadrado

Vários são os servidores públicos que compartilham comigo sua dor e frustração. A impotência diante dos desmandos, a falta de valorização, a corrupção, a nefasta influência do aparelhamento político, o comando por estúpidos apadrinhados que não entendem nada e todas as outras questões que você, certamente, sabe como é. Em meio a esse cenário, claro que existem bons chefes e excelentes profissionais ocupando cargos em comissão, mas não vamos fechar os olhos. Não adianta tentar ser politicamente correto, ou simpático, e fingir que não temos um problema que nós temos. Isso para não falar dos fofoqueiros, invejosos, das "panelas" etc. E pior é que, às vezes, o "sistema" nos reserva o indesejável papel de ser o capitão do mato, ou o carimbador, ou apenas aquele que dá ares de legitimidade ao que é imoral e ilegítimo. Caio Tácito disse certa vez que a arte da tirania é se valer de juízes ao invés de soldados... E isso acaba valendo para muitos cargos dentro do serviço público. E muitos se veem sem opção, sem saída. Bem, o que posso e vou fazer hoje é dizer como eu me protejo disso.
Primeiro, eu penso o seguinte: minha relação com o Estado é uma, com os idiotas no poder é outra (não há só idiotas, eu repito), mas com as pessoas é ainda outra. Por mais difícil que seja, tento praticar o que recomenda Efésios 6, versos de 5 a 10.
Segundo, penso na ideia do metro quadrado. Eu cuido do meu metro quadrado. Nele o serviço público haverá de ser honesto, eficiente, educado, humano. Como dizia Theodore Roosevelt, devemos fazer o que podemos, com o que temos, onde nós estamos. Faço o melhor que posso. Então, trabalho para que aquele que "cair nas minhas mãos" se considere uma pessoa de sorte. Esta pessoa terá o melhor que eu puder oferecer. De modo que tenho uma equipe elogiada, uma equipe formidável etc.
Ainda não cheguei no nível que gostaria, mas tento. Acho que é o que nos resta, nos cabe, nos consola. Espero que você possa ficar feliz cuidando do seu metro quadrado. Estou certo que assim como o desânimo, a motivação também é contagiosa. Creio que podemos inocular noutros esse pedaço de sonho, de metro quadrado. Mas o que temos nós a oferecer senão isso: um metro e um ideal, por mais quimérico e utópico que seja. A utopia nos protegerá do desencanto. Ou, como já me disseram ao tratar de dúvidas sobre a fidelidade amorosa do parceiro, "é melhor viver iludido do que desiludido". Eu convido você a ser extremamente ciente de tudo quanto aos fatos, mas se mantendo um sonhador quanto ao que fazemos. Cuide do seu metro quadrado e pronto.
Ainda existe um terceiro consolo, menos nobre, mas não menos respeitável: dali tiramos nosso sustento. Portanto, que levemos para casa o "leite das crianças" e honremos as calças que vestimos.
 Ganha-se mal, meus caros amigos, mas podemos ajudar, muito de vez em quando - alguma gente. Que isso nos sirva de consolo. E que não desanimemos: um dia retomaremos o serviço público dos incompetentes, dos omissos, dos tíbios, e o devolveremos ao povo, finalmente.

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