Por que as pessoas se acostumam com o que não lhes faz bem? Acho fantástica, mas muito mal utilizada a capacidade do ser humano se adaptar às adversidades. Se você perguntar a um nativo da Islândia se ele é feliz, muito provavelmente vai dizer que sim, e que ama sua terra onde só tem gelo e ventos que queimam o rosto. Isso não é exatamente adaptação. Ele simplesmente nasceu ali e lhe faltam parâmetros. Mas, esse mesmo habitante pode ter acesso a outros países, como as Bahamas, e ainda assim preferir seu lugar gelado. Chega a ser irracional pra quem vê de fora, mas isso é costume, apego, afeição. Somente na mente daquela pessoa é que vamos encontrar os verdadeiros motivos que o mantém preso àquilo, porque na lógica fria não há a menor sustentação. Foi ali onde ele deu os primeiros passos, o primeiro beijo, onde há a lembrança de seus ancestrais, sua cultura, etc. É um apego sentimental.
Isso acontece muito em relacionamentos. Muitas vezes continuamos nos desgastando com nosso parceiro(a) e todos ao seu redor dizem "sai dessa, isso é loucura" e de fato toda a lógica aponta para o rompimento daquilo que só faz mal aos envolvidos e até mesmo aos que estão a seu redor. Mas, ainda assim, o vínculo permanece, todo construído a partir de sentimentos. Afinal, somos mesmo seres racionais?
Fazemos julgamentos o tempo todo (isso é bom, aquilo é feio, aquilo é melhor, mais alto, mais baixo, etc.), só que não são baseados em coisas absolutas, que sirvam para todo ser humano. Nosso julgamento passa obrigatoriamente por nossos valores, sentimentos, experiências, enfim, pela nossa alma. Uma criança pode caminhar pra boca de um Leão que aparentemente era ameaçador pra todo e qualquer ser humano (não necessitando um conhecimento prévio de que aquele bicho vai lhe fazer mal). Mas, sabe-se lá que associação aquela mente fez? Não é exatamente o que acontece com o álcool e o fumo?
A Islândia foi um exemplo extremo. Mas podemos usar o mesmo raciocínio aqui no Brasil. Vivemos num país abençoado por Deus, com uma natureza exuberante, mas no meio de uma população de canibais. É canibalismo no ambiente de trabalho, nas relações sociais, na violência desmedida nas ruas, na fome que assola uma parte gigantesca da população, enquanto uma minoria aumenta seus salários, etc. E vamos nos adaptando a isso com resignação, com o bom-humor característico do brasileiro, comprando a "carteira do ladrão", achando natural que possamos estar mortos ao sair pra comprar pão, e que nossos "bem-nascidos" possam e devam andar com escolta e ter polícia na porta de casa, enquanto a maioria da população não tem. Tudo porque nos acostumamos a isso, através da aceitação do mal ao meu vizinho, através das repetidas notícias de violência na imprensa, e através de um comodismo que aceita absurdos dos menores aos maiores. Novas gerações simplesmente nascem acostumadas a esse mundo louco, e o tempo dos nossos bisavós, onde se "amarrava cachorro com lingüiça", torna-se apenas uma lenda distante.
Mas esse ainda não é o ponto onde quero chegar, que é algo que transcende as notícias de jornal e mesmo o nosso planeta. É sabido que existem pessoas que se acostumam a viver de esmola. Normalmente pensa-se que é o efeito da falta de emprego, da especialização, e tal. Mas tivemos exemplos dramáticos no Nordeste por conta do bolsa-escola, onde famílias que OUTRORA trabalhavam ficaram de braços cruzados por acostumar-se a uma mixaria que o governo lhes dá. E ainda procuram botar mais filhos no mundo pra "aumentar a renda". Isso é um fato, distante pra maioria (que pode dizer o clássico "o que eu tenho a ver com isso?"). O que quero alertar, é que, E SE nos acostumamos de tal forma ao planeta Terra que deixamos nosso verdadeiro lar, nosso "paraíso" e nossos sonhos e potencialidades pra trás, justamente por nos acostumarmos a uma "esmola" fácil e duradoura? Acostumados a um lugar onde o amor é uma coisa contraditória, ora animalesca e regida por instintos, ora Divina e transcendental? E SE hoje usamos uma couraça que limita nossos movimentos, mas que por outro lado é "fácil de usar" e nivela todos por baixo, e nos acostumamos com isso a ponto de esquecer nosso verdadeiro "EU.
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