O desenvolvimento humano, nas suas mais diversas áreas, vem ocasionando o esgotamento dos recursos naturais sem demonstrar preocupação maior com o meio ambiente. A população cresce sem parar e o número de óbitos também.
Do ponto de vista científico, há um desconhecimento por parte da população sobre a influência ambiental que os cadáveres têm quando dispostos em um cemitério. Observando o cenário brasileiro, é alarmante a forma como as necrópoles vêm sendo gerenciadas. Em muito se pode assemelhar um cemitério com um aterro sanitário, visto que em ambos são enterrados materiais orgânicos e inorgânicos. Porém, há um agravante: a matéria orgânica enterrada no cemitério tem a possibilidade de carregar consigo bactérias e vírus que foram a causa da morte do indivíduo, podendo colocar em risco o meio ambiente e a saúde pública.
A decomposição de um cadáver dá origem a um líquido conhecido como necrochorume – composto viscoso de cor acinzentada eliminado durante o primeiro ano após o sepultamento, formado por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, sendo duas delas altamente tóxicas: a putrescina e a cadaverina. O necrochorume é facilmente “dissolvido” em água, representando um meio ideal para a proliferação de doenças infecto-contagiosas. Devido à ação das águas superficiais e das chuvas infiltradas nas sepulturas, ou pelo contato dos corpos com as águas subterrâneas, o necrochorume pode atingir e contaminar estas águas há milhares de anos e/ou a quilômetros de distância.
Se as mesmas fluírem para a área externa do cemitério e forem captadas através de poços escavados por populações que vivem no entorno, estas poderão correr sérios riscos de saúde.
Desta forma, as preocupações com a implantação, localização e operação de cemitérios se fazem necessárias para que não ocorram problemas sérios de contaminação de mananciais de abastecimento, evitando assim efeitos nocivos à população.
Conforme legislação, alguns elementos de projeto devem ser observados: localização, acesso e sistema viário, ocupação e benfeitorias no entorno, cobertura vegetal, hidrografia, sondagem mecânica para caracterização do subsolo.
Para os cemitérios verticais, a legislação atenta quanto à constituição dos lóculos: materiais que impeçam a passagem gasosa para os locais de circulação dos visitantes e trabalhadores; materiais com características construtivas que impeçam o vazamento do necrochorume; dispositivo que permita a troca gasosa proporcionando condições adequadas para a decomposição dos corpos; tratamento ambientalmente adequado dos efluentes gasosos.
A solução para o destino final dos cadáveres não basta ser sanitária e ambientalmente correta, deve ser também moral, social, religiosa e eticamente aceitável pela sociedade.
Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o desenvolvimento urbano estimula, e o desenvolvimento sustentável, não é tarefa fácil, visto que o controle das atividades humanas depende de critérios, valores objetivos e subjetivos, e de mudanças de postura da população.
Por: Enga Sanit. Roberta Maas dos Anjos
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